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Ai o calor de Dezembro
Girando à volta das casas
Fazendo festas na noite
De uma lareira apagada
Pasmada de iluminada
Ai a matéria dos sonhos
Sem outra vida que a nossa
Em bandos partem imagens
Doirando a luz insegura
Nas asas de feroz doçura
Quebrou-se o riso dos tédios
Na sua própria procura
Paradas ficam nas horas
As águas que não secaram
De desgostos que já se foram
Sei-me à volta disto tudo
Nada disto é coisa alguma
Virei eu mesmo na noite
Vestir o espaço do centro
Da casa onde nunca entro
Vinda da vida há uma sombra
Que encerra a vida que passa
E nessa sombra outra sombra
Mais escura que nenhuma
Sonhando a luz que esvoaça
Nos teus gestos que me tentam
Janelas de eu ver o mundo
Baloiça em jeitos de rede
O descanso dos sentidos
Em memória convertidos
Quem me achar que me procure
Quem me encontrar que me solte
Já estou para além deste arquivo
Onde tudo sabe a pouco
E onde eu morro no que vivo
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