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Lisboa, 28 de abril de 2000
Querido filho Luís Antunes...
Te escrevo estas linhas para que saibas que estou viva.
Te escrevo devagar, porque sei que tu não consegues ler rápido.
Bom, não vais mais reconhecer a casa quando vieres porque a gente mudou.
Finalmente enterramos teu avô Miguel. Encontramos o cadáver, pois, com esse negócio da mudança, ele estava no armário, desde aquele dia em que ganhou da gente, brincando de esconde esconde.
Hoje, tua irmã Sônia teve um nenê, mas como não sabe se é menino ou menina, não posso dizer se você é tio ou tia.
Quem não tem aparecido por aqui é o Tio Osvaldo que morreu totalmente no ano passado. E teu primo Rubens que sempre acreditou ser mais rápido que o touro, comprovou que não era.
Estou muito preocupada com o cachorro Jorjão, que insiste em perseguir os carros parados e está ficando cada vez mais chato.
Ah! Finalmente os engarrafadores de refresco aqui de Portugal tiveram a grande idéia de por um letreiro na tampinha que diz : ABRA POR AQUI.
Que achas ? Teu irmão Alaor fechou o carro com a trava e deixou as chaves dentro : teve de ir lá em casa, para pegar a chave duplicata e poder tirar todos nós de dentro do carro.... Passamos o maior calor!!
Esta carta, te mando com o José Walter, que vai amanhã para aí.
A propósito, será que podes pegá-lo no Aeroporto?
Bom meu filho. Não te escrevo o endereço porque não sei. É que a última família portuguesa que vivia aqui nesta casa, levou os números para não terem de mudar de endereço.
Se encontrares a dona Anésia, dá um alô de minha partem, caso não a encontres não precisa dizer nada.
Tua mãe que te ama :Eu
PS. Ia te mandar $100.000 escudos, mas já fechei o envelope.
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