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Hoje senti a falta de um abraço.
Um abraço bem dado, com calor repassado.
Um abraço apertado.
Há muito tempo comecei a construir muros.
Os muros me deixam menos vulnerável.
Os muros do intricado, do obscuro.
Assim é tão fácil dizer que estou bem.
Que minha vida está ótima, quando na verdade está meio estranha.
Que estou no controle de toda a situação quando não é assim.
Hoje resolvi dizer apenas que sinto falta de calor humano.
Mais especificamente de abraços.
De risos verdadeiros. De sinceridades.
Ou somente de um abraço.
Senti saudades de um tempo, de mim, quando até as bobagens ditas eram reconfortantes, apenas para me sentir vivo.
Sem me preocupar com o outro. Sem me policiar.
Recebia mais abraços.
Deixava minha "transparência transparecer"...
Por bem ou mal, foi um dos períodos mais positivos que tive. Já fui falante, extenuante, excessivo, ridículo. Mas fui muito mais original. E mais feliz.
No entanto, sair do rótulo comum, para enveredar-me por caminhos não usados pela grande maioria, envolve sempre atrito, como alguma não aceitação.
Críticas, especulações, incomodações.
Os calados não incomadam.
Não quero incomodar.
Optei pela homogeneidade.
Não estou mais transparente.
Quero obedecer o clássico social.
Há uma opacidade que me preocupa, no entanto.
Pois criar muros, envolve isolar-se.
É não ter mais tantos abraços, alegrias, calor.
A simplicidade da emoção transportada puxa a vida para fora.
A quietude pode ser acompanhada de uma paz que não convence.
Um paz contida. Irreal.
Não se pode ou não se deve, mostrar a fragilidade, o medo, a inquietação, a insegurança. É pecado social?
Ser transparente é sinônimo de algumas coisas pouco edificantes.
Mas a transparência invalida a solidão e a frieza.
Quando você se mostra inteiro, dá chances a outros de se exporem também. Você abre espaços que criam vida, que chamam pessoas, que dão abraços...
Preciso superar estes entraves.
Não será hoje.
Nem queria me prolongar tudo isso.
Foi apenas o intuito de falar sobre abraços.
Fiquei mais transparente?
Não foi a intenção.
O que sei, é que sinto falta de um abraço.
Abraça-me assim...
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